quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Desprevenida

Fui pega desprevenida agora pouco por uma historia que derreteu meu coração. Não dessas histórias de internet, que muitas vezes também me tiram lagrimas dos olhos, como aquela dos cães libertados depois de 10 anos servindo de cobaia num laboratório, mas uma história muito minha, da minha família.

E o quanto isso bate fundo e quanto eu me arrependo de um dia ter sido uma adolescente idiota, sem saber valorizar meus avós e dar o carinho que eles mereciam. Não tem problema nenhum em ser uma adolescente idiota, a maioria de nós quando adolescente é meio idiota mesmo, até ai normal. Mas infelizmente a vida não espera a gente amadurecer pra 'dar tempo' de aproveitar e valorizar o que a gente tem, o que faz parte da nossa historia, o que faz parte de nós.

Que sorte eu tenho de ter nascido numa família cheia de peculiaridades, de pessoas com personalidade forte, pais, avós, irmão, primos, tios, tias, enfim... Já chegaram até a chamar minha família de 'familia Doriana', seja la o que isso signifique!

Mas o que me fez refletir hoje de verdade foi a minha 'ficha cair' do quanto é importante ter alguém com quem contar. E que sorte eu tenho por ter uma segunda mãe que poucos conhecem, a Sonia. A Sonia é uma pessoa fundamental na minha vida, é ela quem cuida da minha casa, das minhas roupas, dos meus gatos, do meu marido e de mim também. E hoje mesmo ela me lembrou da minha 'previsão futuristica' quando disse pra ela aos 14, 15 anos que um dia eu iria ter a minha própria casa e ela iria trabalhar comigo. É, talvez os adolescentes não sejam assim tão idiotas afinal...



A Sonia começou a trabalhar com os meus pais desde que eu tinha uns 13 anos. Nessa época meu avô Mario tinha acabado de falecer e minha avó veio morar com a gente. E a Sonia veio justamente pra cuidar da minha avó Linda, além de cuidar da casa, de mim e do meu irmão. Mas quem ela cuidava mesmo era da minha avó. E que paixão eram essas duas.

Enquanto eu na minha vida louca de amores não correspondidos estudava pro colégio, tocava bateria e ia ensaiar em qualquer fim de mundo que me chamassem, me preocupando com coisas que não me lembro mais, elas duas seguiam com aquela rotina macia da terceira idade com os cuidados sempre carinhosos da Sonia. Ela cortava o cabelo da minha avó, fazia a unha, sombrancelha, dava banho, passava perfume, elas cantavam 'Maracangalha', davam bronca uma na outra, riam juntas das barbaridades na TV, enfim... amigas.

E depois quando minha avó ficou mais dodói sem poder sair da cama, ela continuou cuidando, revezando com uma enfermeira que ficava a noite, sempre tomando conta e amando de um jeito que as vezes nem os próprios familiares fazem.

Então em um 31 de outubro a caminho do trabalho, o ônibus quebrou e a Sonia chegou atrasada. Chegando lá a enfermeira estava esperando na cozinha dizendo que a minha avô Linda estava chamando por ela, dizendo que queria dizer uma coisa impotante e que a enfermeira devia esperar olhando a porta pra dizer pra Sonia que fosse falar com ela no minuto que chegasse lá.

Quando a Sonia entrou no quarto para falar com ela, o espírito da minha avó Linda já tinha ido, e lá sobrara apenas o corpo.

Nesse momento de dor da familia e principalmente da minha mãe que se revoltou com ela ter morrido assim tão de repente, a Sonia lidou com a tristeza dela arrumando a minha avó e 'deixando ela bem bonitinha' para o enterro. Daí hoje ela me disse que nessa hora falou pra minha avó 'É minha lindinha, agora nós vamos pra Maracangalha mesmo'.



Diz se não é pra ficar com o coração mole uma historia dessas. Quando ela me contou essa última parte da historia (nunca aguentei ficar sem chorar até ali), eu dei um abração nela e fugi pro quarto porque não achei justo chorar na frente dela que tinha feito tanto pela minha avó. Por um momento me senti de novo aquela adolescente idiota que se achava tão importante mas tão importante que não tinha tempo pra entrar no quarto da avó e papear com ela sobre qualquer coisa que fosse. A So me disse que eu falei isso pra ela logo que minha avó faleceu, mas eu não me lembro. Infelizmente tem coisa que a gente aprende da maneira mais dificil, né?

Depois disso ela ainda cuidou por muitos anos dos meus avós Paulo e Lucia com o mesmo carinho e amor que tinha cuidando da minha avó Linda, mas isso é papo pra outro texto senão nunca mais vou parar de chorar aqui...

Enfim!!!!



A 'moral' da história é realmente refletir sobre como eu sou sortuda por ter essa mulher forte, carinhosa e batalhadora na minha vida desde a adolescência. Quantas pessoas que são até sangue do nosso sangue mesmo que podemos confiar assim? É uma entrega tão grande que eu não sei como cabe tanto amor dentro de uma mulher tão pequenininha!

Pense você agora, quantas pessoas você tem na sua vida que você pode contar 100% dessa maneira?! Dificil né?!


A parte boa é saber que segunda-feira ela vai estar aqui pra cuidar de mim, do meu marido, dos meus gatos e saber que eu posso cuidar um pouquinho dela também. E ter a certeza que em breve ela vai, de novo, me fazer a pergunta que dá origem a tantas lembranças... 'O que será que sua avó Linda queria tanto falar comigo aquele dia, né?! Eu fico pensando...'

Um comentário:

  1. Sabe Lu, eu também tenho uma história pra contar com meu avô.

    Meu avô era “cabra da peste”, como ele sempre dizia ao acabar o Jornal Nacional... rs

    Teve 7 filhos com minha avó e a criação de todos era o motivo da sua vida. Então, a cada evento que acontecia, como aniversário de casamento deles, a festa era grande. Muitas pessoas envolvidas.

    Chegou um tempo em que ele teve câncer... que evoluiu a um ponto em que não se tinha mais nada a fazer senão dar altas doses de remédio pra não sentir dor.

    Minha mãe veio pra SP e cuidou dele durante muito tempo e sempre que precisava de algo eu a ajudava.

    Ele bravamente se mantinha firme... um belo dia, a família inteira se reuniu para o seu aniversário. Na época, minha namorada, que é cantora e um amigo meu que toca teclado, fizeram um show pra ele. Tocaram “Eu sei que vou te amar” a pedidos dele mesmo. Entre minhas lágrimas eu o observava... ele paradinho... só ouvindo... e... agradecendo a cada um. Eu tenho certeza de que ele estava se despedindo, mas ninguém percebeu aquilo. Eu também não comentei nada com ninguém, mas aquilo mexeu muito comigo.

    Pouco tempo depois eu fui chamado às pressas para ir à casa dele, pois minha mãe falou que ele estava sentindo muitas dores e que precisaríamos levá-lo ao hospital.

    Chegando lá eu percebi que a dor era muita mesmo... e no corpo todo, pois eu não conseguia encostar nele sem que ele gemesse de dor. Tive que coloca-lo na cadeira de rodas pra descer para a garagem. Ao chegar lá tive que carrega-lo novamente para dentro do carro. Eu nunca fiz tanta força na minha vida inteira em tão pouco tempo. Foram os 5 minutos de mais suadouro e nervoso pra pegá-lo de um jeito que não doesse, mas era impossível.

    Quando consegui fomos ao hospital e ao chegar lá minha mãe pediu para que aguardasse no carro com ele enquanto ela via o que fazer. Meu avô estava dormindo... tranquilamente. E eu bati um papão com ele. Cheguei até a comentar o que havia sentido no aniversário dele. Ele não acordou pra escutar, mas tenho certeza de que ouviu tudo o que disse.

    Meu sentimento era de alívio no momento, pois sabia que ele não sofreria mais e que era a última vez que o estava vendo. Ele já havia se despedido de todo mundo e agora estava leve para partir.

    Não sei quanto tempo se passou até minha mãe aparecer, massa comunicação sem palavras foi tão gostosa que era como se estivéssemos gargalhando de tudo aquilo.

    ... realmente tudo o que eu havia imaginado aconteceu.

    Ainda me pego, de vez em quando dando algumas risadas ao lembrar dele, das coisas que falava e como falava. Nos divertíamos quando eu começava a imitá-lo.

    A única avó minha que ainda está viva é a mulher dele. Ela me contou a história de como se conheceram. Um belo dia ela chamou as amigas para ir a um desfile do exército. E ela falava o tempo todo que conheceria o homem da vida dela aquele dia... e não é que aconteceu? Assim que o avistou tinha certeza de que era ele.

    As histórias estão aí... o tempo todo.

    Bjs.

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